#1: Jill e Maia.

Elas se conheceram quando ainda eram adolescentes e acabaram se tornando mais que melhores amigas.



















 Jill era como um lago calmo, um daqueles escuros e misteriosos, mas também muito belo. Ela era uma ótima companhia, boa ouvinte e conselheira. Corajosa, não de entrar numa caverna sozinha e sem lanterna - até porque ela tinha um pouco de medo do escuro - mas aquela coragem de dizer "vai ter que passar por cima de mim primeiro", de enfrentar qualquer um para proteger aqueles que ama.

 Maia era diferente, era inconstante e intensa como o mar. Seus sorrisos facilmente viravam gargalhadas e suas lágrimas saltavam sem pensar duas vezes de seus olhos. Não tinha nenhum medo de expressar o que sentia ou pensava. Era sincera e corria persistentemente atrás do que ela queria até que alcançasse... Ou deixasse de querer.

 E um dia aconteceu que Maia quis ser amiga da garota tímida que se mudou para a casa ao lado. Na primeira oportunidade, puxou papo com a nova vizinha. Jill foi bastante receptiva; mesmo um pouco acanhada, ela estava ansiosa pra conhecer alguém legal na cidade nova. Maia conseguiu ser esse alguém. Havia uma química perfeita na personalidade das duas. Passaram-se apenas alguns dias e elas já conversavam com a empolgação de amigas de infância. E depois de um mês, já dividiam medos, sonhos e contavam seus segredos mais tenebrosos uma à outra. 

 Jill queria ser psicóloga ou política, morava numa fazenda no interior de São Paulo, nunca havia beijado na boca e fora abusada sexualmente por um vizinho quando tinha dez anos. Seu pai deu um fim no crápula com as próprias mãos, mas foi preso por causa disso e ela e sua mãe tiveram que se virar sozinhas depois disso. Passou cinco anos e sua mãe descobriu ter câncer; a luta contra a doença durou cerca de um ano e não teve final feliz, então Jill acabou vindo morar com a avó, na casa ao lado da de Maia. 

Maia não sabia o que queria ser, mas dizia sempre que estava destinada à grandeza, que desejava que seu nome fosse lembrado por séculos. Ela não havia vivido nenhuma história triste como as de Jill; a que chegava mais perto era a de quando, por pouco, não se tornara dependente química: ela se drogava com uma amiga cada vez mais frequentemente e só tomou consciência de que deveria parar quando viu a menina indo pra uma clínica de reabilitação após uma overdose. 


* * * * * * * * * * * * * * * * * *

Tudo ia bem... Então Maia arranjou um namorado e Jill adotou um gato preto.
Jill deixou claro seu desprezo pelo cara, que na sua visão, era só mais um panaca bonitinho da escola. Mas sua amiga não via as coisas assim, Maia achava que Jill estava, na verdade, era com inveja. Involuntariamente as duas se afastaram, mas apenas para unirem-se ainda mais depois, quando Maia descobriu que seu namorado não era só seu.

Jill a consolou. Jill a abraçou. Jill dedilhou os cabelos de Maia e tentou contar o que sentia por ela, mas na metade do caminho travou. 

Durante dias Jill reuniu coragem para revelar à amiga que estava apaixonada por ela. Falar de sentimentos verbalmente não era seu forte, mas ela gostava de escrever; brincava de poeta às vezes e mandava bem nisso. Resolveu escrever uma carta e a colocou dentro da bolsa de Maia quando teve a chance.

Se passou um dia inteiro e nenhuma resposta. Jill estava ansiosa, se perguntava se a Maia poderia estar evitando-a devido ao conteúdo da carta. Já tinha resolvido ir à casa da amiga quando seu celular fez um barulho. Era uma mensagem de Maia.

O sol já estava se pondo quando Jill chegou ao endereço recebido na mensagem. Andou mais um pouco e viu Maia sentada num tronco velho, ao lado de um galpão onde antes funcionava uma fábrica de leite.  
— Nunca vi o céu tão laranja. — disse Jill ao se aproximar. Maia se assustou, parecia compenetrada observando o horizonte. Virou-se e olhou nos olhos da amiga.
— Jill... — Maia engoliu em seco antes de continuar. — Você é...?
— Não! Ou sim... Não sei. — Jill fez uma pausa para estruturar os pensamentos. 
— Você é a primeira pessoa por quem sinto algo assim. Se isso faz de mim lésbica ou o que for, eu não me importo.
 Maia se levantou. Além de terem quase a mesma idade, as duas tinham quase a mesma altura. — Eu também não me importo. — disse e então juntou seus lábios aos da amiga. — Eu também te amo.

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É com muito prazer que anuncio o meu projeto: que tem um nome super criativo "Um conto por semana". Ele consiste em postar um conto à pelo menos cada sete dias no blog, pelo maior número de semanas consecutivas possíveis. O número ali no título significa a quantidade de semanas/Nº do conto. 


O conto da semana eu já havia começado a escrever meses atrás, mas só hoje resolvi retomar a ideia. Eu havia pensado em um encerramento muito mais dramático para a história, um sem "final feliz", mas ao decorrer do texto as personagem pareciam clamar por misericórdia e mostrar o quanto mereciam ficar juntas, aí acabei cedendo. Tô bonzinho. :B
Deve ser porque arranjei um emprego ontem. hahaha


É isso. Bom final de semana pra vocês, pessoal.
E semana que vem seDeusquiser tem mais. Bjos.


Comentários

  1. "Dedilhar os seus cabelos, seus pesadelos vão terminar". Como não lembrar?

    João, que misto de tristeza e felicidade é essa história, num parágrafo a menina tem um passado terrível, no outro ela já superou tudo e declara seu amor.

    Fico imaginando que tipo de coisa você está reservando para o futuro delas. Espero que acabe tudo bem, porque geralmente os contos com essa temática terminam tão tristes.

    Eu amei a iniciativa, estarei aqui todas as semanas vendo o desenrolar.

    Inegavelmente me identifiquei muito com a Jill. Hehe
    Contudo, ainda não consegui me aproximar de pessoas tão opostas como a Maia.

    Beijinhos

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