Começo das Eras - Parte II
Três dias se passaram e corvos que antes
bicavam e comiam a pouca carne restante no esqueleto da mulher, agora
sobrevoavam em círculos no céu sob a cabeça do criador.
Começava a entardecer quando quase metade dos
que haviam ido ao caminho das montanhas voltaram bravos e cansados. Chamaram o criador de
mentiroso, disseram estar com fome e sede, mas não terem encontrado onde saciá-las
e que alguns morreram em meio às armadilhas da natureza, mas não voltaram a
viver.
O criador não estava feliz e nem seus
seguidores.
Eles pediram para que o criador lhes desse de
comer e beber e quando ele se negou,
deram as costas a ele e foram embora. Apenas um dos seus seguidores
ficou, disse que o caminho era muito díficil, em mais de dois dias não haviam
conseguido chegar nem perto da metade e os outros acabaram convencedo-o à
retornar também. O criador falou que as razões para se cometer uma
desobediência não são importantes, que aquilo era um teste do quanto eles
acreditavam nele.
O seguidor pediu perdão ao criador por não
cumprir o pedido e disse que tinha plena fé em seu mestre. Ele disse que se
fossê-lhe dada uma segunda chance, mesmo no estado defasado em que ele estava,
voltaria às montanhas. O criador sorriu e olhou para cima: os corvos que ali
voavam caíram no chão, todos mortos. O criador se levantou e disse ao seu
seguidor que ele não precisaria mais atravessar a montanha e que o honraria
pela coragem de admitir seu erro e a disposição para se redimir.
De repente o seguidor começou a gritar e se
retorcer, caiu de joelhos no chão, olhou para o criador e clamou por piedade. O
criador disse que aquilo era mais que piedade, que era um presente. O homem
ajoelhado gritava desesperadamente enquanto duas grandes asas negras saíam de
dentro dele, rasgando-lhe a pele nas costas. O nome daquele seguidor era
Abadiel e ele foi o primeiro homem com asas.
O sangue parou de escorrer das costas de
Abadiel e suas feridas se curaram miraculosamente, então o criador disse que
seu presente para ele era o dom de voar.
E assim Abadiel fez, abriu as asas, as bateu e
voou pelo céu.
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