New World part. 3

 Para ler a segunda parte, clique aqui.
 Parte 3: 
Apresentações.
"Os homens são movidos e perturbados não pelas coisas, mas pelas opiniões que eles têm delas."   
- (Epiteto)


 E eu acertei. Sobre eu ter ficado inconsciente por um tempo, quero dizer. Antes de fechar meus olhos estavam todos caídos, ainda se recuperando, e agora havia uma aglomeração na parte traseira do ônibus: os passageiros escalavam as poltronas para alcançar uma janela aberta e saírem. Não que tivessem muito êxito. Comecei a tossir e então vi que havia fumaça vindo da cabine do motorista e invadindo o ônibus. Fogo e explosão foram algumas palavras que se espalharam rapidamente e as pessoas começaram a se apressar. Pessoas, será que não ouviram sobre a pressa e a perfeição serem inimigas declaradas uma da outra? Porque o empurra-empurra só fez com que ainda menos pessoas conseguissem sair. A fumaça além de dificultar minha visão, nublou ainda mais a minha mente. De repente tudo ficou escuro. Não. Não tudo. Havia uma luz. Eu estava indo na direção dela. Ou melhor, como percebi depois: eu estava sendo levada na direção dela. Estava suspensa em cima de alguma coisa. A luz tomou forma e virou uma janela, e a coisa que me carregava ganhou corpo. Alguém me jogara sobre as costas e escalara em segundos aqueles bancos. Haviam pessoas e medo em suas expressões, enquanto esperavam ansiosas ele passar comigo pela janela. E eu sei que era ele porque mesmo confusa, eu reconheceria que aquele físico musculoso no qual meu corpo estava pendurado não tinha nada de feminino. O verde e toda aquela luz repentina me deixou mais tonta (se é que tinha como) e embranqueceu minha visão. Fui colocada delicadamente no chão e vi que estavam falando comigo. Depois ouvi que tinha alguém na minha frente. Ou o contrário. Mas de algo eu tinha certeza, eu senti uma presença maligna ali. E não era de alguém vivo. Nada de ouvir ou ver confusamente, senti ela, e um milésimo de segundo depois capotei com um "BOOOM" ao meu lado. E não me julgue fraca. Se você estivesse no meu lugar também apagaria. Braço e pulso fraturado, concussão na cabeça, costela trincada, (essa eu juro que nem havia reparado) toneladas de fumaça que eu inalei e uma explosão de criar crateras bem do meu lado. E olha, eu não estou exagerando. Bem, talvez sobre a quantidade de carbono que traguei, mas o resto foi minha mãe que me disse, enquanto eu estava no hospital. Acho que eu estou até bem, sabe. Quero dizer, com meu braço direito engessado, os quatro pontos que recebi (três na cabeça), o corpo dolorido pra diabo... Não estou ótima; mas se formos comparar: dos trinta passageiros, eu faço parte da minoria que sobreviveu, e dos sobreviventes, faço parte da minoria que não foi para a UTI. Então, hum... Isso é motivo de agradecer, certo? Talvez, se eu fosse uma garota normal. Mas sabe o que eu pensei quando vi aquela luz? Que era a última coisa que eu veria antes de ir para o outro lado. E sabe o que eu pensei sobre isso? "Eba!" e devo dizer que fiquei muito decepcionada quando acordei numa maca de um hospital da cidade de São Paulo (Isso aí, consegui chegar à cidade grande! ¬¬) com minha mãe segurando minha mão e me olhando como se eu fosse um bebê babão. E eu juro que eu não estava babando. Eu estava bem sã agora, sabe.
- Julia, você acordou? Oh, querida... Como você está? - Minha mãe disse ansiosa.
Eu realmente pensei em falar sarcásticamente que eu estar de olhos abertos fitando-a era um bom indicativo de que eu havia acordado, mas não pude. Não com os olhos de minha mãe lacrimejando de amor e compaixão.
- Oi, mãe. - Eu falei sorrindo (sorrir doeu) e deixando as palavra "Por favor, né?!" implicitas no meu tom, porque eu não queria ver minha mãe chorando e começar um melodrama aqui. Depois lembrei da outra pergunta, sobre como eu estava e disse:
- Acho que você deve estar mais bem informada de como eu estou do que eu.
- É. - Ela disse com um sorriso de compreensão.
- Você não sabe como eu estava com saudades. - Ela disse apertando minha mão. 
Houve um tempo de silêncio. - Eu também. - Admiti para ela. Eu sou bem durona, tanto na queda (ou em explosões) quanto para demonstrar meus sentimentos, mas vendo a expressão preocupada e feliz de minha mãe, eu entendi o quanto eu sentia falta dela. - Como estão indo as coisas? - Eu disse já imaginando a resposta, provavelmente ela falaria do meu irmão Douglas e de Mary, primeira filha da minha mãe que supostamente seria minha irmã, mas pela qual eu não tinha nenhum sentimento fraternal. E garanto que ela também não tinha por mim. Não sei se ela tinha ciúmes de mim ou o que, mas tenho memórias bem nítidas de como ela me judiava e manipulava quando eu era criança e como me humilhava e me ameaçava quando eu era uma pré-adolescente. Então eu fiz treze anos, e alguns meses depois meus pais se separaram. Aí eu escapei de Mary e da cidade grande implorando para ficar com meu pai. Meus pais conversaram seriamente e decidiram que eu poderia ficar com ele, que minha mãe levaria Mary e meu irmão com ela para a cidade de São Paulo, de onde recebera uma oferta de emprego excelente. Lembro de minha mãe falando que a hora que eu quisesse era só ligar que ela mandava o dinheiro e eu poderia vir morar com ela ou visitá-la. O que demorou três anos e meio pra acontecer. E não foi porque eu quis. Morar com ela, eu quero dizer, pois eu a visitei umas cinco vezes nesse meio tempo...
- Está tudo bem. A sua irmã... - Aí minha mãe travou, me fitando. - Filhinha, você acabou de acordar. Acho melhor você descansar mais um pouco.
 Demorei um pouco pra entender do que minha mãe estava falando, porque ela  demorou bastante pra responder minha pergunta e eu mergulhei  em todos aqueles pensamentos. Mas se minha mãe ia começar a falar de Mary, eu não ia bater o pé para saber. Tinha assuntos mais importantes a tratar, uma vez que antes de eu ser puxada do Mundo Interior pelo acidente como ônibus, Elisa falou alguma coisa sobre um recado que tinha que dar.
- Ok. - Eu disse, fechando os olhos pra me concentrar. - Até mais, mamãe
Recitei mentalmente algumas palavras-atalho, senti meu corpo estremecer e então abri os olhos. Mas eu não estava onde devia estar. Não, seria mais certo dizer que onde eu estava, não estava mais como deveria estar.

Comentários

  1. passei aqui so pra dizer que estou acompanhando, mas ainda não vou comentar.

    minha mente tá cansada vou dormir e amanhã volto. mas gostei muiitoo

    :**

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